segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

O calor da chuva

"Lu, quando faz calor de dentro pra fora é porque vai chover..." Tabinha me disse isso uma vez, e me disse outra coisa que me deixou pensativa. "Malditas foram as que queimaram o sutiã. As mulheres ficaram sem papel social depois disso". Como discordar de Tabinha?A mulher realmente não tem mais papel social, ou pelo menos esse papel está tão subvertido que ninguém sabe mais qual é.

- Ter filhos ou ter uma carreira? O que devemos fazer afinal?Eu particularmente tenho crises constantes, isso quando não tenho certeza absoluta que o papel feminino é sempre, ou quase sempre, flutuante. Minha angústia se deve ainda à cobrança exagerada. Sim, somos cobradas por mais coisas que de fato podemos fazer.

Aaaaah sim, ainda tem a porra do silicone. Além de termos uma carreira impecável, uma família linda e sermos acima de tudo mães participativas ainda somos obrigadas a cultivar um corpo escultural, digno de fazer inveja a qualquer Narciso que se preze. Mas isso se deve a vários fatores ligados ao "poder sexual" culturalmente dado os homens.

Primeiramente, os homens, pelo menos em sua maioria, não suportam uma mulher inteligente. Ora, mulher inteligente dá trabalho e muito trabalho. Para começo de conversa, mulher inteligente é exigente. Não aceita qualquer tipo de sabonete, tem que ser aquele com hidratante e essência de morango. E o homem, historicamente falando, gosta de mandar em tudo, não aceita que a mulher escolha nem uma mísera marca de sabonete. Uma pergunta. Pra que se matar de estudar se você vai casar com um homem barrigudo, que ronca todas as noites no seu ouvido, e ainda vai querer dar palpite em tudo, até na cor da sua licha de unha?
Eles acham que podem controlar tudo, o que fazemos, o que comemos, o que compramos e o que falamos. Um dos maiores problemas nos relacionamentos modernos, isso porque as mulheres inteligentes e bem sucedidas, na maioria das vezes, não aceitam obedecer simplesmente. O que é, para muitos casais, uma situação impossível de ser sustentada.

Além disso ainda tem a cobrança da família. Lógico, como assim Luana, você prefere ter razão que ser feliz?Aí eu pergunto, alguém consegue ser feliz se anulando? Talvez a felicidade pra uma mulher hipermoderna seja muito mais difícil de ser alcançada que se imagina. Isso porque se por um lado há um sonho romântico de um casamento socialmente aceitável. Por outro lado sua mãe buzina no seu ouvido. "Você tem que ser independente minina". "Mas como mãe? É pra casar ou ser independente? Sim, porque casar implica em dividir a vida, e não dá pra ser independente dividindo a vida com alguém".

Aí bate a dúvida, medo da solidão, medo de ficar pra tia. Bom, mas ficar pra tia nem é uma idéia assim tão ruim depois que um babaca qualquer te fez perder toda a vontade de ter uma vida com alguém. Sobra então a independência, a tão sonhada independência. A razão que veio para nós em forma de um sutiã queimado. Mas Daí vem a chuva e apaga o fogo, te traz a realidade, como já dizia Chico Buarque, "...ta na hora de arrumar namorado pra casar e casamento pra sofrer". Isso ecoa de um jeito cruel, como se não houvesse nenhuma escolha para a infelicidade. Estamos fadadas então à escolha entre a solidão e a falta de opinião, uma coisa anula a outra e não tem como escapar. Tem como escapar?

Está chovendo lá fora e está chovendo aqui dentro, uma confusão na cabeça e o desgosto de ter razão sozinha. Chove quando faz um calor de dentro pra fora, já dizia Tabinha...

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